05 janeiro 2015

Lourenço, o Juíz e o Galego. memória nº108


Memória nº 108
As voltas que o mundo dá.

 

Lourenço apalavrara a venda de seu apartamento para um advogado numa sexta feira à tarde. Fechariam negócio na segunda feira por alguma razão imposta por uma das partes, porém a venda estava realizada e confirmada pelo fio de bigode.

 

No sábado imediato, pela manhã um interessado apareceu, ofereceu alguns por centos à mais e comprou o imóvel. Lourenço faltou com a palavra.

 

Na segunda feira desculpou-se com o advogado alegando que sua mulher desistira da venda para ceder ao irmão. O tempo passou.

 

Alguns anos depois, Lourenço já advogando foi à Jacupiranga, então sede da Comarca de Cananéia para distribuir uma ação possessória e pedir a liminar em defesa do direito do cliente. Formalizou a burocracia de então, recolheu custas e subiu para conversar com o Magistrado.

 

O Juiz de Direito ouviu pacientemente a explanação de Lourenço e questionou:

 

- Dr. o senhor ainda tem o apartamento que prometera me vender?

 

O mundo dá voltas. O advogado que firmara compromisso em adquirir o apartamento fizera concurso e exercia o cargo de Juiz de Direito, e provavelmente soubera que o adquirente não era seu cunhado e que por valores, a palavra não fora honrada, para vergonha de Lourenço.

 

(...)

- Dr. Lourenço, mande subir o processo que vou analisar com toda atenção, levando em consideração sua explanação.

 

Não é preciso registrar que a liminar foi indeferida.

 

Noutra ocasião, Lourenço que mudara-se para São Francisco do Sul contratou um pedreiro para reformar a casa que adquirira na praia dos Paulas.

 

Teve problemas e foi obrigado a romper o contrato e tratar com outro. Um galego que trouxe uma equipe e, além de não fazer o serviço direito provocando prejuízos, também se plantou na obra de forma a tornar difícil a sua substituição.

 

O tempo passou. Anos se passaram e Lourenço foi contratado por uma viúva para promover o inventário dos bens deixados pelo falecimento de seu finado marido. Um dos imóveis constituía-se num terreno posicionado estrategicamente numa esquina onde há alguns anos havia, dentro do imóvel uma birosca na qual era vendido milho verde, garapa ou assemelhados...

 

Para zelar pela posse da viúva Lourenço foi à responsável e pediu que tirasse a birosca em uma semana, para evitar fossem tomadas providencias nesse sentido.

 

A mulher argumentou que precisava do lugar e que estava há anos ali e que era do marido o referido comercio e pediu para Lourenço reconsiderasse, o que de plano foi negado, confirmando o prazo de uma semana para desocupar o prédio.

 

Dois dias após esse dialogo aparece no escritório o Galego, pedreiro que há mais de dez anos antes provocara sérios prejuízos e dissabores a Lourenço, pedindo para que fosse reconsiderada a determinação, oferecendo aluguel e implorando para que deixasse permanecer pois fizera o ponto e era rentável etc...




 


 

- Voce lembra da obra que eu contratei e o prejuízo que me causou com o seu procedimento irresponsável?

 

(...)

O mundo realmente dá voltas e quando menos se espera colhe-se o que plantou.

 

Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras.
Membro da Academia Itanhaense de Letras.
Titular da cadeira nº35 da Academia São José de Letras.
 

Um comentário:

  1. Lembro bem do Galego que tanta dor de cabeça nos deu!! A vida é um "bumerangue" Sem dúvida melhor é agir sempre certo!!

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