22 janeiro 2012

O Amante - comentários

Comentário do professor Antonio Ozai da Silva.


A releitura de O amante**, obra clássica de Marguerite Duras, evidencia novos aspectos.
Agora o “olhar” do leitor percorre o texto amparado numa chave interpretativa pós-colonialista.

A relação da “moça branca” com o amante chinês expressa situações que, a meu ver, são passíveis de universalização, considerando-se as dificuldades presentes – por exemplo, a idade da moça, as diferenças econômicas e a caracterização como prostituição etc. As reações do “amante” – fraqueza, choro, paixão e dependência da moça, etc. – não são especificidades determinadas pelo caráter colonialista que envolve os personagens.

Tais sentimentos são próprios de qualquer ser humano. Isto pode parecer óbvio, mas foram aspectos que tive que observar devido à “chave interpretativa” que guiou o meu “olhar”.
Nesta releitura, observei aspectos que caracterizam valores e atitudes preconceituosas e colonialistas na relação da “moça branca” e sua família com o “homem chinês” e os nativos da Indochina, à época sob domínio francês. A certa altura do seu relato, a narradora se refere à sua infância, sob “o sol intenso” e em condições de miséria. Mas trata-se de uma miséria diferente das dos nativos:

“… não passávamos fome, éramos crianças brancas, tínhamos vergonha, vendíamos nossos móveis, mas não passávamos fome, tínhamos um empregado e comíamos porcaria, galinholas, filhotes de caimão, mas essas porcarias eram preparadas por um empregado, servidas por ele e às vezes recusadas por nós, podíamos dar-nos ao luxo de não querer comer” (p. 10).

Não fosse a referencia à cor, “éramos crianças brancas”, tal relato apenas demonstra um certo sentimento próprio do ser humano, embora possa ser condenável. Refiro-me à necessidade que alguns seres humanos têm em se sentirem superiores, ainda que sua situação econômica não o permita. É uma superioridade frágil, que se sustenta apenas pela vaidade e narcisismo.

Em O amante, a referência à cor branca não é mero acidente lingüístico. Neste caso, a cor é um diferencial a mais para refletirmos sobre o sentimento de superioridade. É interessante como a “moça branca” e sua família tratam o “homem chinês”. Ela se encontra praticamente no papel de prostituta e sua família se beneficia dessa relação diante do amante rico. Contudo, se colocam, por serem brancos, europeus e colonialistas, como hierarquicamente superiores. Isto também expressa a distinção entre o nativo e o colonizador.

A inferiorização dos indivíduos é também um dos principais fatores para a manutenção do domínio colonial. O racismo termina por justificar a dominação econômica e colonialista. Mesmo o fato do “homem chinês” ser rico não supera a concepção eurocêntrica e racista da moça branca e sua família.

( colhido do blog do Ozaí, de Ponta Grossa, Pr. )

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